segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

DE VOLTA A ESCRITA ORGASMÍSCA


por Álvares Rocha

A motivação voltou com as chuvas de dezembro.
Onde eu havia enterrado meu dizer desenfreado?
Onde eu havia enfiado o meu teclado?
Certamente não foi no meu rabo.
Durante tanto tempo a escrita foi a minha mais intima companheira.
Amante, casta e fiel verdadeira.
Volto a escrever furiosamente.
Volto a respirar o bom ar da liberdade de criação.
Novo sangue corre nas minhas veias, bombeando o meu coração.
Ritmo dissonante, vontade louca de gritar:
Quero trepar! Quero trepar! Quero trepar!
Com letras, parágrafos, frases, períodos, oração, pontuação.
Quero gozar com o ato da criação!
Se por caso causo asco a sua refinada erudição
Vá tomar no cu e leve de mim essa versada saudação.

Belém, 02 de dezembro de 2012.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

PREVISÕES DE UM VISIONÁRIO BEBUM


                                       


1 A chegada do carro controlado e guiado por computador torna obsoletas as leias que proíbem beber ao volante, o consumo de álcool cresce de forma assustadora.

2 Uma multinacional compra o que resta das calotas polares, engarrafa e vende. Água Polar torna-se a água mineral mais cara e chique do mercado.

3 A falta de água potável faz com que a população comece a tomar bebida alcoólica como na idade média para se proteger de doenças,

O suprimento de madeira fica tão pequeno que vinho e destilados deixam de ser envelhecidos em barris. As bebidas passam a receber aromas e sabor de envelhecido, produzidos em laboratório.

5 O efeito estufa e o aquecimento global provocam mudanças radicais na ordem internacional: Goiás passa a produzir o melhor vinho do mundo.

6 Uma nova droga contra a ressaca é criada, mas os governos, receosos de uma gigantesca bebedeira mundial, banem a droga imediatamente. Traficantes no Rio de Janeiro começam a vendê-la a preços extorsivos.

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(Extraído do O guia do álcool – Revista Playboy,setembro de 2004)

terça-feira, 30 de outubro de 2012

NOSSAS BEBIDAS DE CADA DIA



Vodca
Criada no século 12 por russos para se proteger do frio.


Como se faz: fermentando uma mistura de trigo e centeio com água cristalina e levedura(uma espécie de fungo), destilando duas vezes e filtrando com carvão.



Como se bebe: É uma bebida ideal para drinques, pois tem um sabor neutro, o que facilita as combinações. Os muito machos tomam pura, diretamente do freezer.



Teor alcoólico médio: 40%



Para impressionar os amigos: GREY GOOSE.



Para ter no bar: ABSOLUT (Suécia) a venda nos bons supermercados por 75 reais.




Uísque
Vem de uisge beatha, que significa “água da vida” em celta.



Como se faz: Fermentando água, cevada e levedo, destilando duas vezes e maturando num barril por algo entre oito e 30 anos. O puro malte já está pronto. Se preferir blended, basta misturar com outras produções.



Como se bebe: Puro ou com gelo, com amigos.



Teor alcoólico médio: 45%



Para impressionar os amigos: O GLENFIDDICH RARE COLLECTION 1937 é o mais velho scotch de puro malte engarrafado no mundo. É também o uísque mais caro que o dinheiro pode comprar. Custa 10 mil libras (55 mil reais), foi colocado para envelhecer em 1937 e engarrafado 60 anos depois. Quer torrar sua poupança nele? À venda só na destilaria. (http://uk.glenfiddich.com/).

Para ter no bar: JOHNNY WALKER RED LABEL, 62 reais.


Champanhe

Foi criada por acaso. No século 17, produtores da região de Champagne, na França, armazenaram um vinho por tempo demais. Ele fermentou de novo e ficou cheio de bolhas de gás carbônico.


Como se faz: Adicionando açúcar e leveduras a um vinho, engarrafando e deixando descansar por três anos. Isso faz com que ocorra uma segunda fermentação na garrafa selada, criando as bolhas de gás.



Com se bebe: Com uma bela mulher, sempre. Sem mulher, só em comemorações.



Teor alcoólico médio: 12%



Para impressionar os amigos: A KRUG CLOS DU MESNIL, safra de 1990, sai por 2,2mil reais nas melhores importadoras de bebidas.



Para ter na adega: GOSSET BRUT GRAND RÉSERVE, à venda por 266 reais em importadoras de bebidas.




Cerveja
A segunda bebida mais consumida do planeta, depois do chá.



Como se faz:Ferementando uma mistura de cereal maltado com água.



Como NÃO se bebe: durante funerais e durante a missa.



Teor alcoólico médio: 5%(as pilsen, que são mais consumidas no Brasil)



Para impressionar os amigos: CHIMAY, uma cerveja produzida por monges trapistas em seis mosteiros da Belgica e Holanda. Tem aroma de frutas, é encorpada e saborosa. Você encontra uma Premiére por 47 reais, se quiser fazer bonito, sempre com o copo criado especialmente para essa cerveja, sai por 55 reais cada um.



Para ter na geladeira: BOHEMIA WEISS, a primeira produzida com o malte do trigo (ao em vez de da cevada) em larga escala no Brasil. Preço médio: 3,50 reais.




Tequila
É a cachaça que deu certo.



Como se faz: Cozinhando o miolo de uma agave (planta comum no México) por mais de 48 horas, fermentando num barril e destilando duas vezes. Pode-se misturar melado de cana, mas a tequila fica pior.



Como se bebe: acompanhado: numa frozen marguerita. Em busca de companhia: pura, virando de uma só vez, após ingerir um punhado de sal e antes de chupar uma fila fatia de limão.



Teor alcoólico médio: 40%



Para impressionar os amigos: CUERVO 1800 COLLECCIÓN, uma garrafa de
colecionador, da qual só foram produzidas 347 garrafas, vendidas a 1000 dólares cada uma. Essa só dá para encontrar no México ou nos Estados Unidos.



Para ter no bar: CUERVO TRADICIONAL REPOUSADO, custa 100 reais em média.




Vinho
Durante a invasão nazista, os franceses escondiam as melhores garrafas que possuíam dentro das paredes.



Como se faz: esmagando as uvas, filtrando e deixando o caldo fermentar em tonéis.



Como se bebe: durante as refeições combinando com os pratos. À noite, para tornar qualquer companhia mais agradável. E quando você achar melhor, afinal, vinho bom nunca cai mal, e em pequenas doses faz até bem a saúde.
Teor alcoólico médio: 13%
Para impressionar os amigos: O ROMANÉE-CONTI, safra de 1997, que o Lula tomou às vésperas de ganhar a eleição para presidente. Por 6 mil reais nas importadoras.
Para ter na adega: o argentino Santa Julia Cabernet Sauvignon Reserva de 2002, que você só encontra por 48 reais na Expand.




Saquê
Inventado na China, em 4800 a.C, foi adotado pelos japoneses.



Como se faz: polindo o arroz para tirar gorduras e proteínas, colocando-o em seguida para fermentar com leveduras, água e uma massa de arroz mofado. O líquido resultante e filtrado, diluído, pasteurizado e engarrafado.



Como se bebe: Num copo quadrado cheio até a boca, um punhado de sal na borda, de preferência dividindo com uma mulher.



Teor alcoólico médio: 15%



Para impressionar os amigos: O UNIKOROSHI, 195 dólares, é um dos melhores do mundo. À venda só no Japão ou nos Estados Unidos.



Para ter no bar: O GEKKEIKAN SILVER custa em média 42 reais e vem numa garrafa verde e redonda muito bonita. Á venda em qualquer importadora de bebidas.


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Fonte:  O guia do álcool – Revista Playboy,setembro de 2004 

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O dia do meu "desaniversário"

Dia 29 de setembro. Levanto da cama. Abro a janela do quarto. Vejo que o dia está cinzento e chuvoso. Hoje é meu aniversário, lembro-me então dos anos anteriores de lugares onde morei e passei essa data, ou pelo menos tento, pois, como diria Renato Russo – “já morei em tanta casa que nem me lembro mais, eu moro com meus pais”... Então é meu “desaniversário”. Recordo também das pessoas que passaram pela minha vida e que hoje se as visse na rua nem as reconheceria e vice-versa, amigos, amigas namoradas, parentes e etc. Olho a hora no celular e também vejo algumas mensagens dando-me os parabéns, todas com quase as mesmas palavras – feliz aniversário!... E todas essas bobagens que dizem para quem está completando mais um ano de vida e um a menos também. Dentre as mensagens tinha uma que valia a pena – feliz aniversário e muitos anos de cachaça! E convidando-me para beber... Era um colega dos tempos rasos e sem profundidade do cursinho, Marcio era o nome dele. Não respondi naquele momento, pensei em manter-me sóbrio nesse dia, queria ir  ver um filme no cinema, claro que não qualquer filme e nem em um cinema comercial, onde só se passa filmes comerciais feitos somente para serem vendidos, tendo como resultado filmes sem conteúdo que nada acrescentarão na minha vida. Tudo bem que há algumas exceções que sempre acabam poucos dias em cartaz. 
E enquanto as lembranças vinham em minha mente com intensidade sem que eu pudesse escolhê-las, eu entrava e saia do banho, tomava meu café e voltava para o quarto. Deitado novamente eu tinha nas mãos um livro que não demorou a ser posto de lado (Já faltavam poucas páginas). O livro era uma leitura de um escritor bem reconhecido no meio acadêmico, falo de Marques de Carvalho que tinha uma linguagem defasada e valores sociais da época ultrapassados também, de difícil compressão a um primeiro contato. Tendo como objetivo um auxílio ao leitor iniciante, que na maioria dos casos era quem estava estudando para o vestibular da UFPA (Universidade Federal do Pará), onde o candidato tinha que ser treinado para passar. Sempre me perguntava o porquê de não colocar leituras de livros que, mostrassem a sociedade atual, a resposta era simples: a consciência do povo é o medo do governo.
Decido então assistir a um filme no qual os personagens viviam em uma realidade alternativa ou futura, em que eram postos numa espécie de jogo voraz de sobrevivência, baseado num Best-seller, não demora muito para se notar a infantilidade do roteiro e conjunto ruim de atores na tela. Dou-me o luxo de ser crítico, pois, para quem já viu filmes com a direção de diretores como: Copola, Hitchcock, Ingmar Bergman, Felini, Chaplin... Com certeza tem um censo crítico para sétima arte. Mas continuo assistindo, então subitamente começo a pensar,  que grande filho da puta que sou? Não vou mesmo beber nada nesse dia? Porra é meu aniversário! (Que mais parece meu desaniversário).
Antes vou almoçar, tento sentar-me a mesa nela estão meus velhos, olho para meu pai, não consigo passar um minuto no mesmo lugar que ele. Às vezes não consigo acreditar que somos parentes, o cara jamais leu um livro. E ainda por cima é alienado pela televisão. Quando assisti um jornal, é só falando sobre crimes na cidade, o mesmo acontecendo no jornal impresso que ao folheá-lo só falta esguichar sangue no leitor.
Saio da mesa levando meu pequeno almoço, depois de acabar, marco pelo telefone com Marcio para tomar umas. Me visto e saio. No ônibus olhando pela janela vejo como um manto cinza de nuvens cobrindo a cidade, pois, em Belém é assim: não existe verão ou inverno, aqui se não chove o dia todo, chove todo dia.
Então cai a chuva. Quase que simultaneamente, vem-me a vontade de chorar, mas seguro, pois, falta pouco para que eu possa sentir como diria Bukowski o gosto do suco misturado com vida (álcool).
Ao saltar do ônibus a chuva não parece tão forte, decido então atravessar a rua. Todos correm dos pingos d’agua, e esquecem-se do quanto é bom sentir as gotas de chuva cair sobre o corpo. Chegando à praça da república o lugar parece sem vida e devastado diferente dos dias de domingo pela manhã aonde os pais de família vão com seus filhos sendo que, o sol e a criançada enche de alegria, aquela singela praça. Lugar onde se encontrava de todo tipo de pessoa, muitas do submundo, moradores de rua, hippies, roqueiros, góticos, homossexuais. Cada tipo deveria ter seu dia na praça, pois, parecia que esse era o dia do homo. Não tenho preconceito então sigo e encontro Marcio em um coreto rodeado. Ele fala ao telefone com Bruno que eu também conhecia das aulas de cursinho.
Não demora e Bruno aparece moreno mais forte fisicamente do que Marcio que, aliás, não dava para perceber pelas grandes camisas de roqueiro se Marcio era magro ou mais forte, o certo era sua cabeleira era escura e de estilo macarrão instantâneo.
- Bora pro bar tomar umas cachaças! – Diz Bruno ao chegar.
- Só se for agora! – responde Marcio
- Vamo então!
O bar era localizado perto da praça. Na rua... De esquina... De nome “meu garoto”. Faltavam poucos metros e já dava para ver que o bar estava fechado (lá se ia à oportunidade de tomar uma cachaça de jambu), mas ainda tinha outros bares, Marcio entra em um. Bruno e eu ficamos na calçada conversando.
 - E qual as novidades? – perguntou-me.
- Nada de mais! Só que faz uns dias que eu não bebo nada.
Essa reunião era só de amigos de copo. Então com certeza após uns goles o papo iria fluir... Marcio volta do bar com uma dose para o “teste”. Era uma cachaça de jenipapo com mel que ao descer pela minha garganta foi purificando a alma. Resolvemos experimentar outra, dessa vez nós três entramos no bar, o dono do bar nos deu então um gole de outra de jenipapo também, só que essa não tinha mel em sua mistura. Bruno bebeu a primeira dose, Marcio a segunda e eu logo em seguida. Nós já erámos experientes no quesito bebida, mas todos nós sentimos a cachaça descer com força goela abaixo fervilhando os órgãos internos, e como um acordo dos três optou por essa. Enquanto estávamos na degustação do álcool, um velho que estava bebendo no balcão se aproxima de nós. Era baixo de chapéu vermelho e camisa do fluminense, ao lado do chapéu percebia-se que os cabelos brancos já o abandonavam e não podendo faltar um bigode estilo português. Nem percebi quando ele já estava falando de sua vida para nós.
- Tenho sessenta anos já, dois filhos formados, trinta anos de casado, uma amante e ainda dou no coro. Quando não levantar mais e ainda tenho minha língua e meus dedos.
Enquanto fingíamos ouvir ele vinha e apertava nossas mãos. Eu não via a hora de saltar fora daquele bar decadente com a cachaça.
Depois de pagarmos quinze reais pela garrafa, nos puxamos de volta para a praça da república, no caminho pela rua estreita, senti que com aquela garrafa nós iriámos ter um bom papo e eu conseguiria dispersar a catarse que se encontrava no meu subconsciente.
A chuva já tocava o solo e dessa vez parecia que seria forte o suficiente para encharcar nossas roupas. Voltamos ao coreto. Onde se encontravam os casais... Olhei em volta e vi duas gatinhas se beijando, eram morenas de uns dezesseis anos no máximo e exalavam sexo, enquanto que na direção oposta havia duas digo dois meninos adolescentes se... Brincando cheguei com as mãos na costa de Marcio quase que num abraço, tirei e nós três começamos a rir, eu ainda rindo, disse que era a influencia do meio. Com certeza todos ao redor ouviram. Márcio e Bruno começaram um papo, os dois já se conheciam de longa data, os dois moravam em Viseu...
Fiquei no lado, olhando para as gatinhas moreninhas do lado, uma delas não parava de olhar, a garrafa já ia mais da metade. Bruno então começou a fazer planos:
- Cara! To querendo ver se arrumo uma grana pro meu aniversário e fazer uma barca doida!
- Vai ter muita mulher lá? – Perguntei.
- Com certeza, mano!
- Mas não colando o velcro?
- Não lá, não!
Foi aí então que percebi que, os olhares se voltaram pra mim. Não disse por mal não, não sou um sujeito preconceituoso. Já me livrei disso quando quebrei as correntes e arranquei o que me cegava nos tempos obscuros e duvidosos de igreja. Falei só de brincadeira mesmo.
- Mas primeiro preciso fazer um arroz, bacana lá onde eu trabalho. – continuou Bruno -.
- E como é o esquema? – perguntou Marcio.
- A parada é o seguinte: lá onde eu trabalho é uma empresa fornecedora de materiais de construção. Eu fico na conferência, depois, por exemplo, que um caminhão de uma estancia qualquer faz o pedido, eu pego e coloco uma quantidade a menos do que está sendo vendida, sendo assim, o cliente paga pela mercadoria inteira, mas, na nota vai uma quantidade menor, então a diferença vai pro meu bolso. Que geralmente varia em torno de duzentos, trezentos reais, que eu divido com um camarada meu lá. Se não for dividido eu tenho que pelo menos fazer a cobertura pra ele fazer o esquema dele. Só que gente tem que tomar cuidado, que lá tem um “culhão” (todo lugar de trabalho tem essas porras!) que é doido pra alcaguetar quem tiver fazendo esquema, mas sei que ele também rouba lá.
Enquanto ouvia esse relato, fiquei analisando a situação, não só dele, mas do brasileiro que já tem a corrupção nas entranhas. Não querendo ser moralista, pois, quem garante que no lugar dele eu poderia fazer o mesmo? (mas eu mesmo não faria, eu tenho princípios) Mas é assim, no Brasil. Por exemplo, quando um cidadão pobre devolve uma maleta com dinheiro achada pelo mesmo, todo mundo xinga o cara dizendo que ele é burro e coisa tal... umas das heranças deixadas pelos nobres,  corruptos e literalmente filhos da puta estrangeiros que vieram foder com o Brasil colônia. E hoje só vemos os frutos dessa foda ruim para a plebe que ainda por cima é rude.
Marcio achou legal o esquema. E nossa garrafa já ia pelo fim, enchi o último copo, e traguei com decisão, e lembrei-me de quando acordei ensandecido para sentir aquele maravilhoso sabor, o sabor da vida!  Márcio pegou a garrafa já vazia e jogou, com o efeito do álcool em minha mente, vi a garrafa sem vida girando várias vezes em câmera lenta antes de cair sobre a grama. Enquanto no meu celular Guns N’ Roses tocava...
Acabou o álcool, acabou o encontro. Descendo pelas escadas rumando em direção à parada de ônibus, na direção contrária vinham duas bibas e ficaram encarando Bruno.
Tomei um susto, quando vi falando alto:
- Que foi veado escroto? Nunca viu não?
- Tão bonito, não!
- Vai-te fuder sua bicha!
Acelerei o passo e perguntei o que tinha sido aquilo. Bruno respondeu-me num tom colérico:
- Não gosto de veado me olhando.
Falei pra ele relaxar... Márcio só ria da situação. Era o fim do encontro.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Marilia estava naquele aniversário

Miró
Ela estava naquele aniversário. Com aquela sua linda face de expressões suaves e fortes. Ela estava vestindo seus curtos trajes apertados. Ela já não estava na sua forma magra de ser. Mas continuava muito gostosa. Sua bunda era enorme e seus seios volumosos, no entanto, seus olhos tão negros estavam tão tristes naquela noite nublada que me senti como apanhado pelo uma irresistível vontade de tê-la em meus braços, para possuí-la como sua alma estava necessitando. Seu nome era Marilia.
- Álvares! Pensei que tu não viesses para o aniversário do teu tio – falou-me ela dirigindo-se até onde eu estava sentado mais meu amigo Daniel e meu tio João.
- Oi, Marilia – respondi levantando-me de minha cadeira, dando um lindo gole na minha cerveja que estava no copo e a envolvendo em um forte abraço para muito além de caloroso. – Saudades de ti, minha querida.
Na noite anterior, Marilia havia levado uma bela surra de seu marido, que era sargento da polícia quando este soube de alguns casos envolvendo sua mulher em relações sexuais com amigos de seus amigos. Isso deu a maior merda e Marilia ainda tentou se justificar, mas quanto mais ela falava mais seu marido se enfurecia e a enchia de porrada. Seus dois filhos, uma menina de oito e um menino de dez, assistiam todo o quebra-pau assustados, porém aquela rotina já lhes eram estranhamente familiar. E agora eles estavam separados. Marilia estava sofrendo, e muito revoltada ficou quando uma grande amiga sua pediu para ela ir denunciar o sargento para a justiça. Até parece que ela teria coragem de fazer uma palhaçada dessas com o pai de seus filhos “que nem estava em seu juízo perfeito”.  Afirmou-me ela depois. E claro que eu concordei com ela.
- Você parece tão triste, Marilia – reparei – Por que você está tão triste?
- Me separei do Nelsão, o meu marido... – respondeu-me ela.
- Uma pena...
- Pois é... mas não quero ficar pensando nisso agora, Álvares. O que passou-passou. Por isso vim pra esse aniversário, pra esquecer aquele filho-da-puta.
E assim a noite seguiu em frente, como sempre acontece.  Marilia estava bebendo demais e as cervejas logo se esgotaram. Daniel havia sido apresentado para uma amiga de Marilia e estava a ponto de se mandar com a garota quando resolvemos comprar mais uma grade de cervejas. Todos ficaram muitos felizes e bebemos e bebemos até ficarmos embriagados. Meus abraços logo viraram beijos calorosos e minhas mãos exploravam toda a extensão daquele corpo. Foi quando tio João me chamou de canto:
- Já estou querendo dormir, Álvares – falou-me ao ouvido. – Leva a Marilia para a tua casa.
- Tudo bem – eu disse.
E assim, deixamos o aniversário de tio João. Éramos um grupo de quatro.
A noite foi intensa, ainda tomamos mais algumas cervejas antes de eu levar Marilia para minha cama e Daniel levar Isadora para o surrado sofá da minha minúscula sala. Marilia sabia como tocar em um homem. E transamos durante a noite toda. Seu corpo, estava com alguns hematomas, resultados da briga com seu marido. Seus olhos negros e tão vivos estavam roxos ao redor, e seu rosto estava levemente enxado. Ela estava dramaticamente linda. E ela me olhava dentro dos olhos e acariciava-me rosto. Logo depois, o sol subiu e Marilia precisava ir embora, pois havia deixado seus dois filhos na casa de sua mãe.
- Até mais, Álvares – falou-me Marilia a se despedi a porta de casa.
- Até mais, Marilia – respondi.
- Vamos Isadora? – chamou Marilia.
- Até outro dia, Daniel – falou Isadora.
          - Até outro dia, Isadora – respondeu o outro.

Ainda havia três cervejas na geladeira. Abrimos uma, enchemos os copos e bebemos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Como duas almas penadas


Era noite quando resolvemos sair para tomar uma gelada. Tudo parecia escuro e sem movimento. Daniel e eu vagávamos pelas ruas do Ver-o-Peso como duas almas penadas. Sem rumo, em busca de vida e sentido. Não havia bar e nem estabelecimento algum que vendesse álcool, aberto. Era desesperador. Mesmo assim continuávamos...
Numa esquina, encontramos um senhor, que tal como nós estava a fim de encontrar vida naquelas ruas sem vida. O bando aumentou.
Descemos até a boate B Vermelho, por sorte, estava aberta e cheia de putas bonitas e bebidas. Nosso amigo resolveu pagar todas e nós bebemos até altas horas da madrugada. Daniel queria se deitar com alguma daquelas putas. Eu só queria beber e de alguma forma parar de pensar. Não queria pensar em comer puta, não queria pensar que não havia mais dinheiro para a próxima gelada, pois nosso amigo pagador já havia saído mais uma puta de feições delicadas e bundinha torneada para algum motel na puta-que-pariu; eu não queria pensar que Regiane continuava a me causar estranhas saudades, embora ela já estivesse casada, com filhos e morando longe pra diabo da possibilidade de um abraço...
Eu estava exausto e louco para explodir.
Não havia mais cerveja, não havia mais dinheiro, não havia mais nada. E eu continuava a pensar em meus problemas e agora eu havia arrumado outro problema, o problema de não ter mais cerveja.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ATRAVESSANDO A BAÍA DO MARAJÓ


Foto: panoramio.com


por Walter Luiz Jardim Rodrigues

Atravessar a baía do Marajó além de ser demorado em embarcações de madeiras conhecidas na região como “navio-gaiolas”, era também um teste para o estômago do caboclo. O barco jogava para todos os lados e não raras vezes as águas invadiam o convés obrigando os passageiros a se levantar para acudir suas bolsas, que viajam ao chão, abaixo de suas redes. Algumas senhoras e até mesmo alguns senhores, às vezes, entram em pânico. Muitos choram e rezam para o divertimento dos demais passageiros acostumados com aquelas “pavulagens” da baía.
Naquela mesma embarcação viajavam dois primos. Uma nunca tinha encarado a travessia; já o outro, era macaco-velho. Felipe e Rogério, assim eram os nomes dos dois rapazes. Felipe, muito nervoso, estava prestes a se cagar nas calças.
- Rogério! – dizia Felipe ao outro. – Tu ainda tens aquela garrafa de cachaça?
- Tenho sim, primo! – respondeu o outro. – Tá lá dentro da minha valise.
- Vamos abrir pra tomar um pouco? Pra passar o frio, esquentar o corpo... hehe.
- Vou pegar lá e já volto.
- Valeu, primo!
A noite se fazia mais escura quando se atravessava a baía do Marajó, e os ventos não eram de brincadeira. Mas após alguns goles, Felipe já até estava se divertindo com todo aquele balanço e estrondo de ondas que faziam as estruturas do barco ranger.
Algum tempo depois, surgiu uma garota magra de cabelos lisos e louros. Todos os passageiros estavam em suas redes naquele horário da noite. Somente Felipe e seu primo Rogério estavam sentados naquela pequena área do barco, uma espécie de salão de festa, localizada na parte da popa da embarcação, reservada a lanchonete e ao bar simultaneamente. Só que naquele horário da noite já estava fechado. Bem, agora eles não estavam mais sozinhos. A garota parecia chateada com alguma coisa.
- Se um cara aparecer por aqui – disse a garota aos rapazes com gestos afobados - perguntando por mim, diga que eu já desci. Vou me esconder aqui no banheiro.
Logo em seguida um rapaz baixo e entroncado apareceu olhando ao redor.
- Passou alguma garota por aqui? – perguntou ele.
- Passou sim, cara – respondeu Rogério. – Mas ela desceu ainda pouco.
- Valeu, cara. Ela deve ter ido se deitar na rede dela. Boa noite.
- Boa – responderam os dois.
Assim que o rapaz desceu, a garota saiu de fininho de dentro do banheiro.
- Porra! – disse ela aos rapazes em seguida. – Pensei que aquele otário não fosse descer. Ele tava querendo ficar comigo. Tava insistindo, se humilhando... Eu não gosto dessas palhaçadas! Parece que o cara não tem orgulho próprio.
- Sente-se e beba com a gente – sugeriu Rogério.
- O que vocês estão bebendo? – perguntou ela.
- Cachaça – respondeu naturalmente Felipe, que estava deitado em um banco com os braços cruzados sobre sua face.
- Forte demais! – comentou ela a Rogério. - Que dizer que vocês são machões, então? Mas aquele ali já estar desbundado.
- Eu tô com muito sono… E minha cabeça tá doendo - se lamentou Felipe.
- Esse cara é um mala! Me passa logo um gole aí, seu veadinho! – respondeu ela, mas Felipe apenas ficou ali deitado, então Rogério pegou a garrafa e passou imediatamente a ela.
Ela deu dois goles dignos de um cachaceiro de esquina e passou a garrafa para Rogério, que deu os seus goles também sem tirar os olhos de cima daquela garota incomum como que querendo se convencer de que ela era real.
- Porra lá vem o cara de novo! – observou a garota indignada. - O fodido já me viu!
O rapaz estava sem camisa, apenas de bermuda. Era robusto e de expressões melancólicas. Um cara que nasceu com todos os atributos físicos e psicológicos para ser um corno manso. Ele a chamou de canto. Ela foi até ele irritadíssima. Sentaram-se num banco, um do lado do outro. Ele passava a mão sutilmente nos cabelos dourados e acariciava com as pontas dos dedos a face fina da garota dizendo suavemente a ela, quase que num sussurro: “Vamos descer, gata. Pare de beber essa bebida forte. Pode fazer mal pra ti.  Esses caras aí são uns cachaceiros. Não se misture com eles...”
- Eu vou ficar aqui! – respondeu ela quase gritando. – Estou bebendo e vou continuar bebendo com eles. Tu não mandas em mim!
O rapaz abaixou e coçou a cabeça. No entanto, os dois permaneciam sentados. Nenhum se ergueu. Rogério e Felipe observavam a certa distância.
- É cara – sussurrou Felipe a seu primo. – E lá se vai a nossa puta. Eu vou é procurar minha rede e dormir o que é.
Mas Rogério não compartilhava da mesma opinião. Talvez, por isso, ele achou de se aproximar dos dois e parar quase em cima deles. O rapaz olhou para Rogério com receio e manteve-se alerta. Porém, Rogério simplesmente ofereceu sua garrafa de cachaça, no que o outro recusou imediatamente.
- Se ele não quer, eu quero!  - disse a garota tomando a garrafa das mãos de Rogério e a levando com paixão até seus lábios finos e vermelhos, sugando aquele líquido transparente como se fosse água de nascente.
Então Rogério tomou uma atitude instintiva, quase brutal. Puxou a garota pelo braço a colocando de pé para imediatamente envolver sua estreita cintura num abraço para lá de colado. E para finalizar sua abordagem cinematográfica: um belo beijo chupado de língua! O rapaz que assistiu o desenrolar da cena numa mescla de surpresa e vergonha, se levantou muito atordoado e sem dizer uma palavra, resolveu se retirar por fim.
Felipe estava sentado observando aquilo tudo com um ar de incredulidade e fascínio. Quem diria que Rogério com todo aquele seu jeitão tímido e calado fosse capaz de chegar numa mulher daquela maneira.
- Beija um pouco o meu primo – disse Rogério de repente para garota.
- O quê? – perguntou ela olhando na direção de Felipe.
- Quero que tu fiques também com ele – respondeu ele.
- Então eu quero que vocês me mostrem as picas – sentenciou ela.
- Por que tu queres ver nossos paus? – perguntou Felipe.
- Quero ver o tamanho deles – respondeu ela dando mais um gole na boca da garrafa, que já estava quase no final. – Quero ver se vale a pena.
Felipe se ergueu rapidamente do banco e quando já começava desabotoar a calça jeans, parou e a abotoou novamente dizendo:
- Tu és uma doida!
E deitou-se novamente com os braços cruzados sobre a sua face larga.  
      - Bom – respondeu ela, maliciosamente -, quando um cara tem medo de mostrar o pau é porque o pau é pequeno. O dele – e apontou na direção de Rogério - é médio. Sabe, a gente conhece o tamanho pelo monte que forma na frente da calça. E o teu é pequeninho mesmo. Nem precisa me mostrar.
- Não é que seja pequeno, sua puta! – reagiu Felipe bastante indignado – É que tá muito frio aqui!
Rogério e a garota sorriram bastante. Felipe ficou muito encabulado.
- Vou te mostrar o meu pau então! – disse ele avançando pra cima dela a abraçando e a beijando até seu pau ficar duro. Coisa que não demorou muito a acontecer.
Rogério estava esfregando seu pau mediano na bunda da garota e beijando seu pescoço, enquanto Felipe esfregava seu pau pequeno na parte da frente da garota a beijando na boca. Era um sanduíche de bêbados, sem dúvida.
- Chupa a minha pica! – ordenou Felipe no calor do momento.
- E a minha também, caralho! – disse Rogério.
Mas a garota queria algo em troca dos dois. Ela queria que eles se beijassem na boca.
- Bem que tu disseste que essa vagabunda era doida, Felipe – se irritou Rogério deixando se pau mediano amolecer na hora.
- Vocês dois estavam juntos desde que entraram no barco – continuou a garota se sentindo cheia de razões e visivelmente irritada por ver sua mísera vontade negada de maneira tão áspera. – Só pode ser um casal! Eu pensei. E não tem nada haver vocês se beijarem aí pra eu ver. Isso me dá muito tesão, sabiam?
- Foda-se, puta-escrota! A gente é primo!– gritou Rogério apontando o dedo na face da garota.  
- Primos também se casam e constituem até família, seu jegue. Um beijo não vai matar e nem fazer de vocês menos homens. Depois vocês podem me comer até enjoar.
Felipe que estava calado desde o início daquela negociação, talvez pensando no assunto de forma mais aberta e tranquila do que seu primo, resolveu finalmente opinar:
 - Que frescura é essa, Rogério – começou Felipe com um sorriso incomum. – A garota não tá pedindo nada demais, cara. Esse negócio de ficar bancando o machão já não tá com nada. Tu não te lembras de quando a gente era moleque?
- Primo, que papo de veado é esse? Tô começando a te estranhar?
- Temos que ter a mente aberta. Viver a vida louca! Beber em todas as fontes e cheirar todas as rosas! Tens que ser moderno, seu caboclo do mato! Sei que tu tens vontade de liberar o outro lado da moeda. Todo mundo tem pelo menos curiosidade.
- Eu já fiquei com várias primas e primos – ajuntou a garota. – E gostei muito.
Depois se fez um silêncio. Para deixar Rogério se decidir. Mas ele apenas olhava para o seu primo de forma assustada e decepcionada. Olhava para a garota e a odiava com todas as forças. Entretanto, Felipe acreditou que Rogério estivesse apenas sem coragem para se decidir, e por isso, se aproximou dele com muito ardor:
- Vem cá e vamos acabar logo com isso! – disse Felipe envolvendo Rogério pela cintura com a mão direita, e com a mão esquerda segurando com força a nuca de seu primo, enquanto seus lábios lançavam-se aos lábios do outro com uma velocidade voraz impressionante.

Seus familiares não acreditavam que Rogério fosse capaz de tomar uma atitude daquelas. Quebrar a cabeça do próprio primo com uma garrafa de vidro e ainda por cima ter o sangue frio para atirá-lo no meio da baía. Por sorte a garota havia corrido até a cabine do capitão para avisar que uma briga entre dois jovens alcoolizados estava ocorrendo na parte de trás do barco por sua causa. Briga por ciúmes. Mas ela garantiu que não tinha dado confiança para nenhum dos dois. Apenas parou para pedir uma informação, mas foi obrigada a aceitar um gole da bebida que eles muito forçadamente haviam lhe oferecido. Mais por medo do que por outra coisa ela ficou por ali, fingindo que bebia. Depois veio a confusão.
- Mas até eu faria a maior confusão pra ficar contigo, minha filha – gracejou o capital dando um leve beliscão na perna da garota após terem embarcado o pobre Felipe e trancafiado Rogério, muito custosamente, dentro de um camarote.
- Te enxergar, velho tarado! – respondeu ela com desprezo. – Tens idade pra ser meu avô. Vou é dormir o que é antes que me estuprem! Nessa viajem só embarcou maníacos!
 O capitão apenas sorriu observando a bela bunda da garota que se distanciava num requebrado excitante, provocativo. Depois voltou para o seu timão. A viagem atrasaria em uma hora.
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