quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Enquanto a garrafa durar









Era assim que as coisas corriam cotidianamente:
Eu de olhos grudados em um monitor de 14’ polegadas
enquanto os dedos trabalhavam em um teclado já avariado
devido minhas constantes digitações, as quais eu denominava egocentricamente de : criações. 
Eu era uma Piada com “P” maiúsculo mesmo. 
Eu devia estar num circo.   
Por que seguir tocando assim? Por que não desistir de uma vez por todas!?
Essa merda nem devia ter organizações em versos para que nem de longe viesse lembrar  um poema.
Um poema sem poesia. Eis tudo o que estas linhas são.
Walt Whitman esta grudado em minha parede, assim como em minha mente.
Eu olho para os papéis que reproduzem os versos do grande poeta.
Olho para o mapa político do meu Estado e para o mapa físico do território brasileiro, ambos grudados atrás de meu monitor, na parede frontal a mim.
A noite avança intrépida. Eu tento seguir levando.
A bebida não está boa, ou melhor, a mistura não está boa.
Mesmo assim, sigo emborcando ouvindo não apenas músicas em espanhol, mas músicas de todos os gêneros possíveis.
Agora ouço Rock n’ roll.
Sigo misturando tudo para alcançar particularidades.
Coisas autênticas e originais.
Eu não sei se as alcanço, mas isso é o que menos importa no momento.
A verdade é que eu só quero dizer o que de outra forma não pode ser dito.
Dito com palavras verbais, convencionais.
As palavras me fogem dos lábios continuamente.
E eu não sei como capturá-las…
O que resta é o medo, a timidez e o acanhamento.
As pessoas reunidas não me fazem bem.
E elas, individualmente, me parecem vazias, sem almas. 
Suas bocas falam coisas que não são coisas suas. 
Seus gestos, seus modos são coisas longínquas de si mesmas.
Sem falar de seus penteados, suas roupas, seus posicionamentos políticos e/ou religiosos.
Caralho, é tão difícil ser nós mesmos.
Por que tentar ser o que é num mundo onde ninguém é o que é?
Eu queria ser o que não sou para que desse modo pudesse ser, existir.
As coisas pareciam querer se restringir definidamente às garrafas.
Desligar o PC, tomar mais uma dose e largar-se na cama.
Havia alguma forma de escapar disso tudo?
As coisas melhorariam em breve.
O instinto de sobrevivência nos inclinava a pensar assim, naturalmente.        

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