sábado, 5 de dezembro de 2009

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO "CORRENDO ATRÁS" - EDITORA MULTIFOCO


Correr atrás do lançamento do meu primeiro romance “Correndo atrás” pela Editora Multifoco, Rio de Janeiro, foi uma experiência um tanto louca e exaustiva.

Primeiro: a editora está longe pra burro do meu lugar de origem, ou, eu estou longe demais da editora. Segundo: um autor novato fica que nem cego em tiroteio diante de uma organização de lançamento.

Sei que a Multifoco tem seu espaço no bairro da Lapa, e que os autores cariocas lançam lá e tudo mais. Mas como fica a questão do caboclo do Norte que aqui vos escreve? Se virar pra divulgar, lançar e vender uma tiragem de 30 exemplares a R$ 40,00. E aí complica. E a gente se enrola todo pra providenciar o que não se sabe o que tem pra se providenciar. E aí o caboclo gasta e se desgasta. Agradeço muito a ajuda de dona Dulce Rocque, que me foi um farol em meio à escuridão. Agradeço meu pai Walter Duarte Rodrigues e minha mãe Rosilene Jardim, que não mediram esforços para me ajudar nesse desafio, apesar deles não serem leitores e acharem livros tão estranhos e incomuns quanto dinossauros na Avenida Presidente Vargas.

A verdade é que eu só desejava que tudo aquilo terminasse logo. Eu estava exausto e estressado. Mas eu também estava contente e satisfeito. E isso compensa. Quando você escreve um livro, você não pensa nessa trabalheira toda.

Das poucas pessoas que eu conseguir convidar apareceram algumas. Dulce Rocque foi uma das primeiras a chegar, embora eu tivesse certeza, quase que absoluta, que ela não engoliria o meu texto seco, porrada e desbocado. E isso me dava uma certa angustia. Mas resolvi que isso era lá com ela e por isso não pensei mais no assunto. Então chegou o professor e jornalista Oswaldo Coimbra, o qual em tempos de Escola de Escritores, eu aprendi umas e outras coisas importantíssimas sobre narrativa e a história da minha cidade. E que recentemente fez um comentário interessante sobre o romance no site Guarulhosweb e que também será publicado na próxima terça -feira, dia 8/12/09, no jornal Guarulhos Hoje. Depois apareceu a colega de trabalho de minha mãe acompanhada de seu filho e amigas; minha tia Adelaide Jardim Machado com minhas primas Taís e Rafaela Jardim, estas com suas filhas, as pequenas Emily e Marcely, que não sossegaram o facho nem um segundo. Meu sobrinho de três meses, Daniel, também estava lá com minha irmã Viviane C. Jardim Rodrigues. Meus dois irmãos por parte de pai Wagner e Leonardo. A esposa de meu pai Aldaleia com sua bela sobrinha Shirley, meu grande amigo Deividy Edson com sua garota, minha sensacional e linda amiga, a atriz Daiane Abreu...

Apesar de tudo, as coisas correram tranqüilas. O material gráfico do livro ficou de uma qualidade impressionante. Muito bonito mesmo. Meus agradecimentos a todos que compareceram ali, e aos que não puderam comparecer por um motivo ou outro, mas eu tenho certeza que estariam se pudessem. Agradeço a Editora Multifoco pela oportunidade dada aos novos autores brasileiros.

Um abraço,

Walter Luiz Jardim Rodrigues

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Lançamento do romance "Correndo atrás"

CORRENDO ATRÁS – romance de estréia do escritor paraense Walter Luiz Jardim Rodrigues – é um daqueles romances que prendem a atenção do leitor do início ao fim. Uma narrativa clara e precisa do cotidiano de um jovem à procura de seu primeiro emprego, aventuras e principalmente respostas. O cenário é uma metrópole encerrada no coração da Amazônia, Belém do Pará. Ali o jovem Álvares Rocha (de quem não sabemos nada no início, e de quem acabamos por nos tornar amigos ou inimigos íntimos) passeia, perscruta e denuncia. O autor traz à luz uma Belém como poucos conhecem. Inadaptado ao meio social que o cerca, problemas familiares, amores frustrados, desemprego, solidão, alcoolismo, Álvares vai confidenciando, pouco-a-pouco, a sua inusitada história e revelando-nos a sua cidade. Uma história pungente, bem humorada e comovente, que poderia muito bem ser a história e os sentimentos de muitos cidadãos de qualquer uma outra grande cidade do mundo. Escrito numa linguagem concisa, dotada de um humor irônico e mordaz, o texto surpreende por sua sinceridade. Certamente, o primeiro contato com o dizer desenfreado de Álvares Rocha (e não seria o alter ego de Walter Rodrigues?) venha desagradar e até mesmo ruborizar a alguns que ainda acham inconcebível que a realidade seja apresentada sem os convencionais filtros da linguagem bem comportada. Fica aqui o alerta aos leitores da Bibliothèque Rose. E como uma vez o autor deste romance respondeu quando convocado a pensar sobre uma imagem relacionada ao livro, eu concluo esta orelha: “Dinamite com o pavio curto e aceso”. Portanto, caros leitores e leitoras, é preciso estar preparados para a “explosão” inevitável ao virar das páginas.

(texto retirado da orelha do livro)






CORRENDO ATRÁS DE UM SONHO
por Walter Rodrigues

É com grande satisfação que publico este post. Afinal, o primeiro livro de um escritor é algo maravilhoso e inesquecível. Ainda mais em um país onde as dificuldades para se conseguir uma editora realmente interessada em seu trabalho e não somente em seu dinheiro são raríssimas. Quem escreve e tenta publicar sabe do que eu estou falando. “Correndo atrás” saiu de um laborioso trabalho de “parto”. Foram anos até se chegar ao texto final, mais alguns meses aguardando a resposta da editora, e mais nove meses esperando para finalmente poder ver o rosto do meu filho. Certamente é emocionante ter seus textos publicados em antologias literárias, eu me orgulho de ter diversas participações em antologias, no entanto, uma antologia me parece como uma casa cheia de pessoas que não se conhecem e tendo que dividir o mesmo teto. Já um livro individual é algo como um filho mesmo. A sensação é outra.
Descobrir a Editora Multifoco, do Rio de Janeiro, em uma das minhas incansáveis buscas no site da Google. Eu procurava uma editora que recebessem originais e não repassasse os custos exorbitantes de edição para o autor. Pois igualmente como aos dias de hoje, eu me encontrava desempregado e duro. Agradei-me da forma de trabalho da Editora Multifoco, e depois de algum tempo eu estaria enviando o meu original para análise sem a menor esperança de ser aceito, pois a editora, que recebe projetos por e-mail, deveria receber milhares de livros semanalmente. Mesmo assim acabei enviando. Passou-se o tempo, e eu que já não mais esperava resposta alguma, eu abri minha caixa de entrada em São Sebastião da Boa Vista, no Marajó, e lá estava um e-mail de resposta da editora em nome do editor Thiago França. Fiquei receoso de aquilo ser uma recusa, mas abri a mensagem. E foi ali que começou o trabalho para a publicação deste livro.





CORRENDO ATRÁS DE SEU EXEMPLAR

Correndo atrás / Walter Rodrigues - 1° Edição - Editora Multifoco: Rio de Janeiro, 2009.
262p.
Romance brasileiro.
LANÇAMENTO
DIA 28/11/2009
às 18:30
Fórum Landi (Praça do Carmo) Cidade Velha
Belém-Pará-Brasil
Informações:

ONDE COMPRAR?
No site da editora que aceita o cartão VISA:
www.editoramultifoco.com.br
Diretamente com o autor que dá um desconto legal (Depósito):
walterlispector@hotmail.com

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Noche de vino escaso


Las cosas cambian rápidamente.
Los versos caen sutiles.
Las estrellas y la luna ya no me hablan una mierda.
Sólo me apacigua las músicas en español y las botellas de vino.
Yo quiero algo más, pues soy algo más.

(Álvares Rocha)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Visita da Mamãe

Seis horas da manhã. Acordo-me. Sonhei que Isaías e eu éramos confundidos com polícias. E assim nos arrastávamos pelo chão na tentativa de escapar de rajadas de balas no bairro Guamá. Antes, sonhei que Vitória e eu estávamos dentro de um ônibus lotado de neonazistas alemães.
Minha cabeça latejava um pouco. Litro e meio de vinho barato tomado num suspiro. Infelizmente não havia mais nem uma gotinha. Olho-me no espelho. Sinto-me com duzentos anos.
Lavo meu rosto e escovo os dentes. Abro a janela e observo a estreita e enlameada rua. A manhã está cinza e ameaça desabar o céu sobre as nossas cabeças. Sacolas de lixos nos cantos dos becos e nas frentes das casas. Alguns lixos estão espalhados pelo meio da rua. Obra de algum cachorro desordeiro. O caminhão de lixo não passou no dia previsto. O resultado era aquele pós-guerra.
Sinto leves dores na barriga que logo se expande, fazendo o ir a privada uma necessidade irreversível.
Pego o meu caderno de anotações e sento-me no trono a escrever e a cagar. Antigamente eu gostava de ler nessas circunstancias.
Depois deixo o caderno e a privada de lado, e me concentro a ajuntar meu lixo. Certamente o caminhão passaria hoje. Surpreendo-me com a quantidade de garrafas de bebidas vazias. E assim tento enfiar na marra a minha mais nova garrafa vazia dentro da sacola. Por fim consigo. No entanto, o gargalo de plástico fica exposto do lado de fora. E é ali mesmo que eu faço o laço na sacola. O gargalo ficou tal como aqueles “picões” da alta sociedade com suas gravatas borboletas. Depois abro a porta e vou até a entrada de um beco próximo. Meu pé afunda, como de costume, numa poça e se cobre imediatamente de lama. Por certo, de leptospirose eu não morreria mais. Deixo o meu lixo junto dos outros. Ainda fico olhando para ele durante algum tempo. Um orgulho danado toma conta de mim. Sem dúvida alguma ninguém tinha o lixo mais bonito do que o meu. Com gravata borboleta e tudo.
Volto para minha toca.

- Nossa! – exclamou minha mãe sentando-se junto a minha mesa redonda, servindo-se de café. – Meus sapatos estão todos enlameados. Que sufoco pra se chagar aqui!
Uma manifestação ali perto do Maguari me prendeu. Saí de casa ainda iam dá dez horas! Um bando de filhos da puta que não tem o que fazer interditaram a pista. Um palhaço ainda veio me criticar quando eu reclamei da manifestação. “É direito deles se manifestar”. – Ele me disse. – “Se pelo menos estes filhos da puta ficassem com o terreno era bom. Mas eles fazem toda essa confusão pelo terreno dos outros, e quando chega na hora eles nem ficam, nem precisam. Isso tudo é pra eles venderem depois. A polícia tem é que meter a porrada nesses vagabundos, isso sim”. Eu respondi pra ele. Ele ficou calado. A gente que precisa trabalhar tem que ser prejudicado pelos bonitinhos?
Então ela abre uma sacola de supermercado e tira uma embalagem de leite desnatado, um pacote de pães e uma pequena bandeja de queijo fatiado.
- Quanto lixo jogado pela rua – continuou ela mais descontraída. – Bem aí na entrada desse beco eu vi um lixo com uma gravata borboleta. Na verdade era uma garrafa de vinho com um laço no gargalo.
E ela se riu um pouco e depois disse:
- Uma pessoa que faz uma coisa dessas só pode ser retardada.
Então ela calou-se por um minuto, e ficou a matutar alguma coisa. Depois me olhou seriamente e perguntou:
- Álvares aquele lixo é teu?
Eu respirei fundo, encostei minha cabeça na parede e suspirei:
- Sim…
E aí ela ficou muito irritada. E aí ela berrou pra caralho. E aí eu me concentrei no volume baixo das composições de Vaughan. Eu não gostei de Vaughan.
Então minha mãe se acalmou e bebeu mais café. Ela gostava muito de café. Eu também.
- Que diabos de música é essa que não tem letra? – perguntou-me ela.
- Clássica – respondi.
- Paraste de escutar músicas em espanhol?
- Não. É que às vezes eu prefiro ouvir músicas clássicas. Elas são superiores a tudo. Se algum dia alguém escrevesse um livro como Chopin compôs suas coisas, esse livro seria grandioso.
- Resumindo: tu não gostas de músicas nacionais – sentenciou minha velha.
- Eu gosto de Cazuza, Renato Russo, Chico Buarque, Leoni e tantos outros brasileiros igualmente geniais.
- Cazuza e Renato Russo foram duas bichas-loucas – respondeu-me ela.
Preferi não responder tal comentário.
Ergo-me, vou até o aparelho DVD e troco de compositor. Vaughan me era um chute nos bagos. Passo para Liszt, um dos meus prediletos. Liszt conseguia ser fúnebre e ao mesmo tempo vivo; triste e ao mesmo tempo alegre; cinza e ao mesmo tempo colorido. Ele tinha estilo.
Depois minha mãe puxou outra sacola. Ela adorava andar com sacolas. Isso me incomodava muito. Eu odiava andar com sacolas plásticas nas mãos. Então ela puxou da sacola um jornal, e o atirou sobre a mesa.
- Tu sabes que eu nunca suportei a ideia de tu trabalhares naquela feira. Aquilo não é vida pra ninguém. Arrume um emprego de verdade. O trabalho informal não te oferece garantia nenhuma. Leia os classificados, pois há empregos na cidade. Tu tens é que levantar esse teu rabo da cadeira e correr atrás, porque ninguém vai bater na porta te oferecendo emprego. As inscrições da UFPA já estão abertas. Tu deverias tentar o Vestibular.
Depois dona Carmem olhou para as horas e disse erguendo-se:
- Já vou indo, meu filho. Está no meu horário. Tu tens alguma coisa pra almoçar?
- Tenho – menti.
E ela meu deu um beijo no rosto, e eu dei um beijo no rosto dela.
- Vê se tu paras com essa bebedeira – falou-me ela a porta. – De cachaceiro eu já estou farta! Já basta aquele lá em casa.
E assim minha mãe seguiu, desviando-se das poças e dos lixos, rumo a parada de ônibus.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Reencontro com Carlinhos (Capítulo 45)


Ontem quando eu emborcava uma dose de conhaque no Ver-o-Peso encontrei com um velho amigo. Ele estava mudado, certamente, já fazia cerca de sete anos que não nos víamos. Mas o que mais me surpreendeu fora quando Carlinhos pediu para que o barman lhe servisse uma cerveja.
- Olá, senhor Álvares Rocha – saudou-me ele enchendo seu copo. - Quanto tempo não é? Estás tentando o suicídio ou estás com dor de corno mesmo? Olha a cirrose, meu chapa.
- Cara – eu disse surpreso. – Tu não eras crente?
- A igreja é um comércio, meu amigo – respondeu-me ele sem rodeios. – E a fé é a mercadoria.
- Por que tu dizes isso, Carlinhos? – perguntei com sincera dúvida.
- Eu fui pastor por dois anos, Álvares.

E ele me contou que estava casado e tinha uma filha. E que trabalhava como professor de Física e que estava ganhando uma grana doida. Depois me contou como se tornou pastor e conheceu sua esposa.
 Ele naquela época andava de amasso com uma garota do coral de jovens. Segundo ele, Gabriela era uma jovem bonita, de grandes olhos esverdeados, pernas grossas, sorriso angelical e uma doçura inexplicável. Supôs que eu a conhecesse. Eu respondi que não. Carlinhos na época era o líder do grupo de mocidade, por isso tinha uma cópia da chave da igreja. Ele não tencionava ficar a sós com Gabriela ali numa daquelas salas da igreja, onde os jovens ensaiavam e os novos convertidos tinham suas lições bíblicas aos sábados, entretanto, precisou voltar à congregação após o ensaio do grupo para pegar algo que tinha esquecido. “Sabes como é difícil esconder o tesão que uma saia desperta, não é Álvares?” Perguntou-me ele maliciosamente. “Sei”. Respondi. Gabriela também não colaborava em nada para que Carlinhos controlasse sua vontade louca de lhe levantar a saia e lhe possuir por trás.  Tanto que ela o beijou de forma diferente e ao percebê-lo excitado cuidou de roçar sua frente a frente dele. Então foi aí que aconteceu. A igreja depois toda soube e deu um estrondoso escândalo. Carlinhos teve que assumir a garota e arrumar um emprego para arrumar o do leite da criança que já estava a caminho. Passaram-se alguns anos e a igreja foi esquecendo o incidente, tanto que Carlinhos já era obreiro e até pregava em alguns domingos. O pastor gostava das pregações do rapaz e o aconselhou a se formar em um seminário teológico. E assim Carlinhos fez. Um irmão como ele conseguia levar a congregação às lágrimas com uma simples explanação bíblica e, conseqüentemente, os levava a abrir as carteiras e as bolsas. Após assumir a congregação, o pastor Carlos já não se expressava como outrora, agora, seus sermões além de calorosos e emocionados eram metódicos. Era como se o seminário tivesse lhe dado o poder de ir ao inferno e esbofetear Satanás. Ele se achava um super-homem. Mas logo perceberia que não passava de um estúpido fantoche nas mãos de uma autoridade maior: o pastor-presidente. Carlinhos acreditava que a igreja estava preocupada com a assistência aos mais carentes, a propagação do amor de Cristo pelo mundo e ao diálogo com os irmãos católicos a fim de os salvar de sua idolatria. Mensalmente o pastor-presidente convocava uma reunião com os pastores responsáveis por congregações na cidade.  Carlinhos teria sua primeira lição de igreja naquele dia.
- Eu não quero saber como – esbravejava o pastor-presidente aos pastores subordinados. – Mas eu quero fechar o caixa mensal da igreja no limite estipulado para cada bairro. Temos gastos mensais com água, luz e aluguel, senhores. Como vamos ganhar o nosso dessa maneira? Os senhores precisam me ajudar para que eu possa ajudar os senhores. Intensifiquem as campanhas. Isso gera uma boa receita.
- Com licença, pastor – levantou o braço Carlinhos.
- Sim?
- Concordo que devemos nos preocupar em levantar a soma dos gastos, mas a soma restante nos deveria direcionar para a assistência dos irmãos carentes de nossa congregação. Por exemplo, se em cada congregação…
- O pastor ainda é novato e jovem. Ainda não entende alguns procedimentos internos – interrompeu o pastor-presidente visivelmente ofendido. - Temos que ganhar o nosso, pastor Carlos, pois não somos relógios para trabalhar de graça.
- Jesus Cristo não cobrava nada para falar aos pecadores.
- O senhor é Jesus Cristo, pastor?
- Não.
- Eu também não sou. Então se mantenha em seu lugar.
Carlinhos estava chocado e decepcionado. Ele praticamente endeusava o pastor-presidente daquela denominação evangélica espalhada em todo o país. Não era possível ele estar falando daquela maneira. Para maioria das pessoas igreja é sinônimo de Deus, Jesus Cristo. Se Deus é onipresente, ou seja, estar em todo lugar, por que diabos acreditamos que só podemos encontrá-Lo dentro de uma igreja? Por isso que quando um fiel perde a fé na igreja conseqüentemente perde a fé em Deus. Carlinhos perdeu a fé em sua igreja e logo perderia a sua fé em Deus.
Aquele assunto me trouxe a baila um curioso episódio que ocorrera quando Carlinhos e eu, ainda freqüentávamos a mesma congregação.
Deus sempre me pareceu algo fantasioso e distante. Agora dentro da igreja eu procurava entender quem Ele era. Por isso minhas leituras bíblicas foram intensificadas naquela época. Carlinhos tinha me dado um bíblia e me falava de muitas coisas de Jesus e de Seu infinito amor pela humanidade. Que deveríamos seguir o exemplo de Nosso Senhor e amar ao nosso próximo como se fosse a nós mesmos. Mostrou-me nos Evangelhos a oração do “Padre Nosso” e me incentivou a recitá-la de joelhos antes de dormir. Isso espantaria os espíritos maus que eu via e ouvia à noite, e me aproximaria de Deus. Eu também teria que freqüentar a igreja para me fortalecer mais na presença do Senhor. Carlinhos era um jovem extremamente religioso naquela época, mas seu fanatismo às vezes assustava. Eu não imaginava qual punição ele queria que o pastor aplicasse aos dois adolescentes sodomitas que foram flagrados por algum irmão linguarudo dando umazinha no banheiro da congregação.
- Álvares – dizia-me ele com gestos exasperados e voz alterada. – É o cumulo!  Onde já se viu dois homens praticado um ato abominável daquele e ainda por cima dentro da casa de Deus?
- Existi outros lugares para se fazer isso – eu respondia. – E o banheiro da igreja não é o lugar mais indicado.
- E o pior é que o pastor está mais preocupado em abafar o caso do que puni esses dois baitolas.
- Não julgue para não ser julgado, Carlinhos.
- Deus irá puni-los! Ele é amor, mas também é justiça. Ninguém zomba de Sua casa e sai intacto.
- Então deixa Deus cuidar do caso.
Se estivéssemos na Idade Média e Carlinhos tivesse autoridade de condenar alguém ao suplício da fogueira, com certeza, os dois rapazes do banheiro seriam os primeiros a torrar. Bom, o desafortunado casal homossexual não teve a sorte que Carlinhos viria ter mais tarde, e foram expulsos da igreja sem nenhuma chance de casamento e, principalmente, bebês.
 
- Qualquer dia desses, eu te apresento minha mulher, Álvares – disse-me Carlinhos no final de seu relato e já se arrumando para sair.
- Acho que não será uma boa idéia, Carlinhos – respondi em tom de brincadeira. – Sou pegador e não respeito a mulher do próximo.
Carlinhos riu a valer e me deixou pagas mais algumas doses. Pensei que deveria pelo menos ter pedido o telefone dele. 


(Capítulo 45 do romance "Correndo atrás" - Walter Rodrigues, lançado em 2009 pela Editora Multifoco, Rio de Janeiro.)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ganhando o meu pão


Tia Maria tinha uma amiga que era amante do dono de uma padaria.

- Te arruma bem arrumado, tira essa barba – falava-me minha tia ressaquiada passando-me um papelzinho amassado. – E vai aqui neste endereço amanhã às nove horas da manhã. Já está tudo certo. Diz que tu és o rapaz que a Sandy indicou.

- Tudo bem, tia. Obrigado.

Guardei o endereço no bolso.

A padaria era imensa. Eu fiquei admirado com a quantidade de fornos, mesas, maquinário, doces, salgados e pães. Havia cinco setores de trabalho: os confeiteiros, os padeiros, os embaladores, os serviços gerais e os vendedores ao balcão. Eu fui designado para o setor dos padeiros. Eu desejava trabalhar no setor das embalagens.

- Eu sou o Alberto – apresentou-se um senhor baixinho de cabelos negros e rosto sacana. Sou o padeiro-chefe. Coloque este jaleco, está touca, está máscara e lave as mãos. Tem uma pia logo ali. Depois me procure que eu vou te arrumar o que fazer.

- Certo – assenti.

E eu coloquei o jaleco, a touca, a máscara e lavei as mãos. Eu me sentia uma porcaria de um médico com aquele jaleco e máscara brancos. Olhei para o amplo espaço e percebi que todos usavam tal vestimenta. Senti-me dentro de um maldito hospital. Desejei ardentemente fugir dali.

- Certo, rapaz – falou-me logo em seguida o padeiro-chefe. – Agora me diga o seu nome.

- Álvares – respondi.

- Tens cara de professor – ele disse. – Vou te chamar de Professor. Agora vá com Rodolfo. Vocês vão ensebar formas.

- Tudo certo, chefe.

E seguimos para um extenso corredor de formas de pão de forma.

- Professor – falou-me Rodolfo. – A parada é o seguinte: tu untas as formas do lado esquerdo do corredor, e eu a as do lado direito. Veja como eu faço e preste bem atenção porque eu não vou mostrar de novo. Entendeu?

- Entendi.

E ele foi até um dos fornos e trouxe uma forma cheia de gordura vegetal derretida. Depois ele pegou uma flanela escura de sujo e a ensopou na gordura. Então ele esfregou a flanela sobre as partes internas da forma, ele tinha prática e rapidamente estava ensebando outra.

- Agora tenta aí, Professor – sugeriu-me ele.

E eu tentei. Peguei a flanela sebenta e enfiei dentro da forma com gordura vegetal. Senti a temperatura morna da gordura, e a espalhei pela forma paralelogramo.

- É mais ou menos assim - falou-me Rodolfo. – Com o tempo se pega a prática.

E ele partiu para o seu lado e começou o serviço. Eram tantas formas a serem ensebadas. Tentei me diverti com a coisa. Comecei a encarar o serviço das formas como se fosse um jogo. Rodolfo era o meu oponente. Eu precisava vencê-lo. O problema era que os jogos sempre acabavam me enfadando rapidamente. Eu não gostava muito de jogos. Por isso eu nunca fiz questão em ter um videogame. E como se Rodolfo estivesse lendo os meus pensamentos, ele disse:

- Vamos apostar uma grana, Professor? Quem chegar primeiro no fim do corredor leva.

- Estou em desvantagem. Tu és no mínimo cem vezes melhor nisso do que eu.

Ele se sentiu orgulhoso ao ouvir tais palavras. Era muito evidente tal sentimento nele naquele momento. Assim funcionavam as coisas. Se um cara é melhor do que o outro em determinada função, como a de ensebar formas, por exemplo, ele se eleva à condição de ser supremo. Eu escrevia melhor do que uma porrada de escritores da minha cidade, e por isso me achava grande coisa. Certamente existiam escritores mil vezes melhores. Talvez minha escrita não valesse porra nenhuma. Mas eu me sentia superior a todos os outros seres humanos, um privilegiado, um guru, ou melhor, um deus.

Passamos a manhã inteira naquela função medíocre. Rodolfo terminou o seu lado e veio ajudar-me a terminar o meu. Depois disso o horário do almoço. Não se podia sair da padaria para almoçar fora. O dono trancava todo mundo e só lá pelas três horas da tarde ele reabria. Enquanto isso, nós ficávamos trabalhando. O lugar onde comíamos era um espaço não muito grande e próximo demais do banheiro dos funcionários. Peguei minha marmita e desci a colher no arroz, feijão e peixe assado. Depois bebi um pouco de água e sentei-me num canto para descansar. Não havia muitas cadeiras e as que haviam estavam sendo ocupadas pelos confeiteiros. Por isso, os padeiros e os embaladores estavam sentados no chão. Eu percebi que os padeiros não se davam muito bem com os confeiteiros. Os confeiteiros eram sérios demais, em contra partida, os padeiros, eram demasiados palhaços. E o padeiro-chefe comandava o circo. Os embaladores eram neutros. O pessoal do balcão podiam sair para almoçar e só retornavam às três horas. O pessoal dos serviços gerais só apareciam quando todos saíamos.

- Espia aí essas bocetas enormes, Professor – falou-me Alberto atirando sobre minhas pernas uma revista pornográfica.

Olhei. De fato, se aquilo não fosse efeito de computador, aquela boceta devia ser uma mutação, um aperfeiçoamento da espécie.

- Aposto que ele nunca viu uma boceta ao vivo – comentou Rodolfo.

Todos sorriram a valer. Até os confeiteiros. Menos eu. Resolvi não deixar barato.

- Como não, Rodolfo? – respondi tranquilamente. – A senhora sua mãe, com toda aquela boceta devorando o meu pau, seria algo difícil de se esquecer.

Risadas estrondosas.

- Cara, eu vou te arrebentar! – esbravejou Rodolfo partindo para cima de mim como touro brabo.

- Calma porra! – interveio Alberto segurando Rodolfo. – Tu sacaneias com o cara e não se responde na brincadeira? Se tu não sabes brincar, caralho, não brincas, porra!

- Ninguém tava mexendo com a mãe aqui, seu Alberto – lamentou-se Rodolfo. – O senhor sabe que a minha velha faleceu faz alguns meses... Eu vou moer esse filho da puta lá fora!

- O patrão não quer saber de brigas nem aqui dentro e nem fora daqui entre seus funcionários – falou o confeiteiro-chefe, um senhor de face rosada e olhos azuis.

- Isso mesmo, porra! – reafirmou o padeiro-chefe. – Se ele souber de briga entre vocês dois, ele vai foder a cartola de vocês.

Rodolfo não me esperou na saída. Ele não queria perder seu emprego. Ele tinha mulher e filhos para sustentar. Meus dedos estavam todos feridos devido ao contato com as formas. As veias e os ossos de minhas pernas doíam. Eu estava todo moído.

E assim passaram-se dois dias. Eu estava esgotado. Eu não conseguia acompanhar os padeiros nas tarefas. E desde meu incidente com Rodolfo, eu havia sido colocado de canto. Sendo que, Alberto não me dava mais funções e nem me ensinava como no início. Éramos observados diariamente em nosso setor de trabalho por várias câmeras de vídeo. O patrão assistia as fitas no final do expediente. E assim, no meu terceiro dia de trabalho, um jovem apareceu para trabalhar com os padeiros. Ele tinha uma vantagem gigante em cima de mim. Ele tinha uma experiência de dois anos como padeiro. Não havia como competir com ele. Alberto o conhecia. Vizinho seu. Eu estava com os dias contados e me tornei indolente nas funções. Sentava-me pelos cantos e comia salgados. Certa vez um dos padeiros me disse:

- Quem vai te contratar não é o Alberto. São as câmeras. Então procura fazer alguma coisa. Não espera te darem funções. Corre atrás do que fazer, rapaz!

Eu fiquei muito puto com o dito padeiro. Quem ele pensava que era para me aconselhar? Por acaso eu não sabia da existência daqueles indecentes “olhos de vidro?” Eu estava pouco me lixando. Eu sabia qual seria o meu destino ali na padaria, e eu não queria ser dispensando. Isso feriria o meu ego.

Por isso, resolvi não voltar ao trabalho no dia seguinte.



(O texto faz parte do romance "Feiras", de minha autoria, ainda inédito)

sábado, 11 de abril de 2009

Cores, sons, cheiros. O show de Sandrinha vai começar

foto Walter Rodrigues


Nuvens gordas de chuva. Grandes nuvens cinza. Relâmpagos. Vento frio. Revoada de urubus sinistros. Bondinho carregado de turistas atentos a arquitetura antiga. Embora a tarde estivesse se ausentando e a possibilidade de um aguaceiro desabar, inicio minha ronda pelas ruas da Cidade Velha.


Atravesso a Travessa Felix Rocque e decididamente avanço à Rua Tomázia Perdigão. Atenho-me ante uma fachada de linhas retas a fazer contraste com os vãos em arcos de janelas e portas deterioradas. Azulejos português desgastados pelo tempo, semblantes infantis em massa e entre o primeiro e segundo andar uma placa retangular dançando ao vento exibi a imagem de uma silhueta feminina vizinha das palavras: “Club’s Show Drink’s”


Resolvo entrar.


Logo à entrada sou surpreendido com uma cartela. “É um bingo que vai rolar daqui a pouco. O ganhador escolhe a puta que quiser do salão por conta da casa”. Disse-me o rapaz da portaria. Guardei a cartela no bolso. Talvez eu tivesse sorte. Observei uma ampla escada em madeira de dois lances enquanto uma jovem prostituta de mini-saia preta vencia o primeiro lance de escada deixando visível o vermelho vivo de sua calcinha rendada.


Depois me deparei com uma pequena e estreita porta. Uma porta incrivelmente desornamentada, uma portinha sem detalhe algum.


- É SÓ ABRIR A PORTA, FERA! – gritou-me o rapaz da portaria.


E, de repente, um mundo de cores, sons e cheiros. Um balcão logo de frente servia caipirinha e cerveja geladíssima. Encostei-me ao balcão e pedi uma gelada. O show de Sandrinha iniciava-se.


As mesas junto ao palco eram ocupadas por homens de todas as idades, eufóricos. Palavras de baixo calão corriam indiferentes por todo aquele estreito e refrigerado salão. E a luz vermelha derramava-se em abundancia sobre o corpo nu de Sandrinha. Era como se ela tivesse acabado de sair do forno. E ela executava o seu show com classe, ela tinha estilo. Seu jovem corpo moreno e torneado a enroscar-se na barra de ferro, seus olhos de um castanho meigo e ingênuo fixavam-se em coisa alguma, seus negros cabelos encaracolados a grudar em seus seios rígidos e suados. Sandrinha levava o público à loucura enquanto as meninas no salão ofereciam seus generosos serviços. O bingo ficaria para outra oportunidade. Eu precisava continuar minha ronda.


Então segui no rumo da Joaquim Távora, observei o barroco na estrutura da Capela de São João Batista, a fachada do Grupo Escolar Rui Barbosa e toquei para Rua São Boaventura.


Já era noite e a chuva não desabara. E me vi entrando em um prédio que tentava imitar em seus altos muros, muros medievais. “Drivi-in Los Piratas”. Um rapaz saiu ao meu encontro e informou-me que o espaço funcionava somente com drivi-in, ou seja, guiava-se o veículo até um dos mais de 100 boxes quadrangular, estacionava-se, fechava-se a cortina e o casal ficava a vontade.


Movimento intenso de pessoas, automóveis e motos do lado de fora de uma casa de show próximo. Resolvi pesquisar aquele local também. Tratava-se da casa de show “Palmeiraço”, que trabalhava mais uma das muitas festas de aparelhagem que acontecem na cidade. Melody, Brega, Forró, Funk, Pagode entre ostros ritmos. Telões espalhados pelo espaçoso ambiente mostravam o êxtase provocado no numeroso público pelas fortes batidas das gigantes caixas de som.


Enfeitiçados, os corpos rebelam-se, pulsam rítmicos à batida que ecoa pelas células, partindo os ossos e espalhando as medulas pelo o corpo oco. Rebelião dos corpos incontrolados, inalantes de sensações diversas. Era impossível ficar parado, pois o som nos tirava para dançar com ele e o vento que vinha varrendo os suores trazia consigo o cheiro do rio Guamá que nos espiava dos fundos. Tomei mais duas cervejas e fiquei duro.


Então, ao lado do Mangal das Garças, uma fachada retangular ostentava uma faixa com a palavra: “Mormaço”. Entrei. Percorri um largo e extenso corredor em concreto. Depois uma curva a formar uma espécie de “L” e finalmente a bilheteria. A mesma conversa de estou fazendo uma pesquisa e etc. E adentro no salão de festa de graça. Iluminação boa e no palco músicos a trabalhar ritmos regionais em homenagem ao aniversário de Mestre Verequete. Salão amplo trabalhado em madeira acima do rio Guamá. Assim como o “Palmeiraço” da Rua São Boaventura ambos poderiam funcionar como trapiche também. Alguns barcos ao lado aportados. Jovens dançando bebendo, uma garota me pagou algumas cervejas. Ela parecia encapetada e levou-me para junto de mais dois rapazes, presas dela. Não sei quais eram suas intenções então na primeira oportunidade que me apareceu eu dei fora dali.


Eu não sei se aquela garota pôs alguma coisa em minha bebida, só sei que a sentar-me no banco da praça do arsenal de marinha adormeci subitamente...


Sem óculos e sem dinheiro. O sol a esmurrar-me a face. Os bem-te-vis nos portes e nas árvores. Um guarda a me cutucar com o cassetete. Ele me diz algumas coisas que não escuto. Ergo-me e sigo a pé para casa.




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O texto acima integra o livro Cidade velha - Cidade viva, Belém-PA 2008. O livro foi editado pelo jornalista e professor Oswaldo Coimbra, responsável pelo Grupo de Memória da UFPA, ministrante da oficina e condutor dos trabalhos de preparação dos textos e das ilustrações. A impressão foi custeada pela CiV-Viva, com contribuições de empresas do bairro. E o texto acima integra a citada obra.


Clique sobre a capa do livro e saiba mais:


sábado, 14 de fevereiro de 2009

Quiçá Amor

“Chamou o garçom, pagou, rápida, a despesa, saiu pelo
lado oposto ao em que estava Dulce, na desoladora,
nervosa certeza de que ela era-lhe superior,
e que bastaria um aceno dela para que se sentisse
nos seus braços como um vício empolgante”.


(Marques Rebelo)





Daniel e Álvares estão sentados em um bar da esquina. A noite vem caindo sutil enquanto o sol deixa seus últimos raios em nuvens violáceas. As cervejas vêm e se vão numa velocidade espantosa. Se elas estavam furadas? Não, não estavam.

- Tu estás mesmo apaixonado por está tal Eliana, cara? – duvidou o fiel amigo de Álvares Rocha.
- Porra, cara – respondeu Álvares com a voz distante e melosa. – Acho que a garota me pegou de jeito... Ela me lembra muito a Samantha. A personalidade neurótica e histérica, sabe.
- Sei... Tu ainda estás amarradão na Samantha. Mas me conte como foi pra te conhecer está pequena.
- Foi mais ou menos assim…


O domingo prosseguia límpido e alegre. O sol ia alto num céu excessivamente azul de escassas nuvens. Artistas vendiam suas telas mais adiante, enquanto no calçadão da Avenida Presidente Vargas, artesanatos variados. Pais e filhos sobre as gramas a brincar de futebol, enquanto, sobre o gramado mais adiante, amigos com seus copões de cerveja e litros de vinho vagabundo. O som animado de um grupo de músicos peruanos espalhava-se pelo espaço. O verde da grama a se confundir com o verde das árvores numerosas. Tantas garotas bonitas dando sopa. Uma pena elas não serem mudas, pois do contrário seriam perfeitas. Mas como nada é perfeito, notei uma pequena estacionada ao meu lado esquerdo. Então comecei a arriar o papo. Era preciso me conter para não deixá-la perdida em meio a conversação. Ela não estava muita a fim de conversa, e logo cuidou de estreita-se ao meu corpo. Como a filha-da-puta era gostosa! Não sei como a genética trabalhava para deixar aquelas pequenas com as bundas para lá de suculentas. Seja como for, eu cuidei de trabalhar um pouco a tal bunda. Nossa! Como era durinha.

- Tá muito abusado, viu? – reclamou ela toda dengosa dando-me umas tapinhas no braço.

Isso significava que a vagabunda estava gostando da sacanagem. Ela se chamava Eliana. E estava trajando um short jeans curtíssimo com uma camiseta branca que deixava boa parte de sua barriga ao vento. Mas era uma barriguinha de responsa, que valia a pena observar, tocar e beijar. Com evitar uma ereção? Impossível.

A Praça da República, em Belém, aos domingos ficava abarrotada de gente. Nem sempre eram pessoas honestas. Minha Eliana julgava que poderia arrancar alguma coisa de mim, na certa, as garotas de hoje andam muito espertas. Comer de graça estava ficando cada dia mais difícil, será que a maldita crise global estava afetando até o setor das fodas? Talvez sim, talvez não. Em todo caso, Eliana trocava carícias e saliva comigo gratuitamente.

- Álvares – disse-me ela teatralmente constrangida ao meu toque em seu sexo quente. – Pára com isso. Tem muita gente aqui. A gente tá na praça e não num motel.
- Isso pode ser arranjado – eu disse insinuante. – Moro alguns minutos daqui. Sozinho.
- Pára, Álvares! – continuou ela com suas tapinhas irritantes. – Tu tens na cabeça uma fossa.
- E tu tens na bunda um universo de possibilidades.
- PÁRA, ÁLVARES! Tu só pensas em sexo, seu tarado.
- Não há o que mais pensar diante desse seu shortinho.
- Só do shortinho?
- Principalmente do recheio dele. Com toda sinceridade, Eliana, tu és muito gostosa. Imagino como tu deves se sair numa cama.
- PÁRA, ÁLVARES!
Aquelas tapinhas e risinhos estavam me deixando puto da vida. Mas eu esta a fim de comê-la e precisava continuar naquele joguinho.
- Vem comigo – puxei-a pelo braço.
- Mas pra onde? – reagiu ela só pra fazer charme deixando-se levar como uma ovelha ao matadouro.

Eliana e eu estávamos esvaziando uma das minhas garrafas de vinho ordinário. Ela sentou-se sobre minha velha poltrona com as pernas abertas tal como uma prostituta.

- Olha, Eliana – eu disse um tanto confuso sobre a possibilidade daquela garota ser uma profissional. – Tu não és nem uma prostituta, ou és?
Ela levantou-se de súbito da poltrona, bastante ofendida e me largou vinho na cara.
- TU PENSAS QUE SÓ PORQUE UMA MULHER – e ela gritava feito uma doida. - VESTE UM SHORTINHO COMO ESTE E DÁ CONFIANÇA PRA UM SUJEITO COM TU, ELA É PUTA?
- Eu só perguntei por pergunta – respondi limpando a minha face na camisa. – aliás, há muitas profissionais naquela área, como você deve saber. E a gente ainda se conhece tão pouca, merda.

Ela voltou a se sentar na poltrona, suspirou e pediu desculpas. Que devia ser culpa do vinho e não-sei-o-quê. De onde o Satanás enviava estás garotas? Era chapéu eu me enrabichar por uma desse tipo. Sempre neuróticas e histéricas. Samantha era um tanto assim e eu ainda gostava muito dela.

- Vamos tomar mais uma garrafa, Eliana – eu disse enchendo os nossos copos.

Ela consentiu ainda amuada. Resolvi então tomar uma atitude e a beijei com paixão. Ela correspondeu com mesma intensidade. Eu sentei-me sobre a poltrona, e ela montou sobre mim. Sua boceta quente a esfrega-se sobre meu membro duríssimo. Sua barriga suada, seus cabelos castanhos e ondulados a grudar-se em meus lábios, em meu rosto, em minha alma. E eu tirei seus generosos seios para fora e os mamei com sofreguidão, enquanto ela deslizava de cima pra baixo, de baixo pra cima, em movimentos circulares. Uma foda maravilhosa, diga-se de passagem, embora o restante da noite ela viesse a se embebedar a ponto de nem poder urinar sozinha. Era eu para levá-la ao banheiro, baixar-lhe a calcinha e segurá-la no vaso sanitário. Sim, meus sentimentos estavam seriamente comprometidos, entretanto, apenas um se destacava como o sol ao meio-dia. Eu estava apaixonado.



- E foi assim que aconteceu, Daniel – concluiu Álvares esvaziando o seu copo de cerveja e o enchendo em seguida.
- A garota parece legal, bonita e principalmente maluca – reparou Daniel pensativo. –Pensando bem, se eu estivesse no teu lugar quando ela te jogou o vinho, eu teria virado a cara dela ao contrário. Mas pelo menos ela gosta de beber e foder como uma condenada. Isso compensa.
- Isso aí é verdade – concordou Álvares.

Depois os dois seguiram para casa de Álvares. Ainda havia meia garrafa de vinho na geladeira e uma garrafinha de 600 ml de cachaça debaixo da cama. Dava para uma prosa.
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