segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Embarcando rumo ao Marajó (parte II)






O bar estava lotado. E nossa mesa começava a ocupa-se toda de latinhas vazias. Fora então que Isaías e um senhor, conhecido meu, tiveram a sublime idéia de descer até a segunda tolda do barco e encher uma latinha, vazia é claro, de cachaça e levar a nossa mesa. A danada ficou bem no centro, notável, toda ela. A mais cobiçada de todas. Logo ela estaria passando de mão e mão, acabaria em nossas bocas sedentas e desceria rasgando o esôfago de forma suave e áspera. A mistura não nos cairia bem. E dentre algumas horas saberíamos isso na pele.
Daniel não queria beber menos que os outros, e eu, não queria beber menos que ele. Mas o cara fazia por merecer, o desgraçado deu um senhor gole e quase esvaziou toda a maldita lata. Isaías apenas “bicava”, ele era esperto, mas o motivo de toda aquela cautela era o fato daquele filho-da-puta não ter ido com a lata, no sentido literal da frase, da bebida. Daniel não me superaria nos tragos. Eu bebia muito mais tempo que ele, ora. E bebemos de forma desesperada. Acabamos num tiro um litro de vodka.
Logo a uma guerra começou a ser travada dentro de nós. Daniel e eu estávamos para ser partidos ao meio e os quase 40% de álcool da vodka venceria facilmente e logo se aliaria aos quase 5% de álcool das cervejas ingeridas. Malditas! Ajuntaram-se para nos liquidar.
Então não pude mais ouvir coisa alguma, as luzes do bar se mesclavam. Meu corpo todo era dormência mortal. Poderiam me arrancar uma perna, um olho que eu nem sentiria. Logo ficaria inconsciente.
- Álvares – me sugeriu o senhor que bebia conosco. – É melhor você ir deitar. Já bebestes demais. Chega!
- É O CARALHO! EU QUERO É BEBER, PORRA! – gritava e chamando a atenção de todos.
Isaías e Daniel vieram intervir antes que o pior acontecesse e eu enchesse a fuça do pobre senhor de foguetes. Era quase impossível permanecer de pé. Daniel começava a perder o controle de si e o efeito do álcool era o nosso senhor absoluto.
- ÁLVARES! – gritava Daniel tentando me segurar. – CALMA, PORRA! TU BEBES MAIS TEMPO QUE TODOS AQUI. CALMA, ÁLVARES! CALMA, PORRA! Então eu o empurrei para longe de mim, mas, devido as minhas forças estarem neutralizadas, Daniel não se afastou o suficiente e, aproveitando a minha deixa, o fodido me largou um foguete estridente bem na fuça. Sentiria o meu queixo na manhã seguinte.
Ajuntaram-me do chão e mandaram Daniel me levar até minha rede, que se encontrava na segunda tolda do barco. E assim seguimos. Um seguro no outro. Bêbados em excesso. Seguimos os primeiros passos, cambaleando, para depois nos esparramarmos pelo chão azul do bar. Quem disse que tivemos forças para levantar. Ficamos ali mesmo. Os caras que bebiam na mesa mais próxima se compadeceram e nos ajudaram. Isaías estava puto da vida, mas colocou-me de pé e pressionou-me contra a amurada.
O vento que vinha, elusivo e orvalhado, varria, sem alarde, todo o andar superior, lá onde o bar se encontrava todo em desordem e nervoso. Eu, só queria acertar a fuça de alguns espertinhos metidos a bom samaritanos. Queria que todos eles se fodessem ou deixassem que eu me fodessem em paz.
Daniel e eu achamos que poderíamos descer sozinhos. Ledo engano. Caímos como um montão de bosta. Por alguns instantes pensou-se que o barco viraria devido a quantidade de gente só de um lado. O lado em que nos encontrávamos estirados. Então o vômito veio, forte e abundante. Havíamos nos tornados alguma coisa mais que bêbados. Éramos agora atração circense e São Sebastião da Boa Vista saberia, em peso, saberia quem nós éramos. Era que todos os passageiros tinham o mesmo destino em comum e bosta da cidade era minúscula.

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